Uma coisa que devemos, novamente, deixar claro é a seguinte: ansiedade, em seus limites normais, é natural e inato aos seres humanos. O que vamos abordar aqui são os tipos de transtornos de ansiedade – aqueles que ultrapassam a barreira do aceitável.
Vale ressaltar que, embora a presença do medo e da ansiedade em excesso seja característica comum a muitos desses transtornos, inclusive com perturbações comportamentais inclusas “no pacote”, eles possuem diferenças no que diz respeito aos tipos de objetos e/ou situações que excitem o medo, a ansiedade ou comportamentos de esquiva. Sabe quando você diz “cada caso é um caso, não podemos generalizar?”. Pois bem, é isso mesmo. Somente com uma pesquisa aprofundada acerca das situações vivenciadas pelo paciente, bem como seus pensamentos e crenças.
Dito isso, vamos aos tipos de Transtorno de Ansiedade. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da American Psychiatric Association (APA), eles são divididos em:
Transtorno de Ansiedade Generalizada:
O Transtorno de Ansiedade Generaliza, ou TAG como é conhecido, não está relacionado a um evento específico. Muito pelo contrário. A pessoa com TAG sofre em função de várias situações e/ou problemas, por um período longo, de forma constante e persistente. É como se os pensamentos ansiosos ocorressem em forma de looping, sem parar, afetando drasticamente as atividades do dia a dia.
Prevalência: O TAG é um dos transtornos de ansiedade mais comuns, afetando pessoas de todas as idades. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a prevalência ao longo da vida do TAG é estimada em torno de 5,7%, sendo mais comum em mulheres do que em homens.
Sintomas: Os sintomas podem variar, mas geralmente incluem preocupação excessiva e contínua sobre várias áreas da vida, como saúde, trabalho, finanças e relacionamentos. Os sintomas físicos frequentemente incluem tensão muscular, fadiga, irritabilidade, inquietação, dificuldade de concentração, perturbações do sono e sintomas somáticos como dores de cabeça ou desconforto gastrointestinal.
Transtorno do Pânico:
A característica desse transtorno são os frequentes ataques de pânico, que ocorrem de forma inesperada e recorrente provocando um estado de apreensão constante nos indivíduos. É um medo tão intenso, desencadeado em poucos minutos, que os produz a sensação de um ataque cardíaco. Esse sentimento é tão forte que muitos mudam completamente o seu próprio comportamento para não desencadear os gatilhos que levam a essa condição.
Prevalência: O Transtorno do Pânico é relativamente comum, afetando cerca de 2 a 3% da população em algum momento de suas vidas. É mais comum em mulheres do que em homens.
Sintomas: Os ataques de pânico geralmente ocorrem repentinamente e podem durar alguns minutos. Os sintomas físicos incluem palpitações, sudorese, tremores, falta de ar, sensação de sufocamento, dor no peito, tontura e náusea. Sintomas cognitivos incluem medo intenso de morrer, perder o controle ou enlouquecer.
É importante ressaltar que os ataques de pânico não se relacionam somente aos transtornos de ansiedade, mas, também, a outros transtornos mentais.
Transtorno de Ansiedade Social:
Também chamado de Fobia Social, esse transtorno leva os indivíduos a evitar qualquer tipo de interação social por medo do julgamento, das opiniões negativas, de ser humilhado ou rejeitado. São pessoas temerosas que temem ficar envergonhadas diante de situações em que sejam expostas ao olhar alheio.
Prevalência: O Transtorno de Ansiedade Social é um dos distúrbios de ansiedade mais comuns, afetando cerca de 7% da população mundial. A condição geralmente se manifesta no início da adolescência ou no início da idade adulta.
Sintomas: Os sintomas podem incluir medo de falar em público, conhecer novas pessoas, comer ou beber em público, usar banheiros públicos, ou realizar atividades que envolvam interação social. Os sintomas físicos podem incluir rubor facial, tremores, sudorese excessiva, taquicardia, náusea e dificuldade em falar.
Fobia Específica:
Esse é um transtorno relacionado a situações ou objetos específicos, como, por exemplo, a animais, ambiente natural, sangue, injeção, ferimentos, situações pontuais que ocorreram em algum momento da vida, entre outros. São pessoas altamente apreensivas que, ao se depararem com a situação fóbica, entram em desespero ou paralisam por completo.
Prevalência: As fobias específicas são bastante comuns e afetam cerca de 7% a 9% da população mundial. Elas podem se desenvolver em qualquer idade, mas muitas vezes têm início na infância ou na adolescência.
Sintomas: Os sintomas de uma fobia específica incluem ansiedade intensa ou pânico ao se deparar com o objeto ou situação temidos. Esses sintomas podem ser acompanhados por reações físicas, como palpitações, sudorese, tremores, dificuldade em respirar e sensação de perigo iminente.
Agorafobia:
Quem sofre de Agorafobia teme algumas situações como: usar ônibus/metrô; estar em lugares abertos ou fechados; lugares com multidões; ficar em uma fila; em função dos pensamentos gerados e que despertam gatilhos. Eles ficam apreensivos só de pensar que possa ocorrer alguma coisa e que seja difícil escapar ou que não terão auxílio rápido caso desenvolvam algum sintoma de pânico.
Prevalência: A Agorafobia pode ocorrer de forma isolada ou em conjunto com o Transtorno do Pânico. Estima-se que a prevalência ao longo da vida da Agorafobia seja de cerca de 1,7% a 2,6% da população.
Sintomas: Os sintomas incluem ansiedade intensa ou medo ao se deparar com situações ou lugares específicos, como multidões, espaços abertos, transportes públicos ou lugares onde escapar poderia ser difícil. Essa ansiedade pode levar a ataques de pânico. A pessoa com agorafobia pode evitar tais situações ou estar acompanhada por alguém de confiança.
Transtorno de Ansiedade de Separação:
Esse tipo de transtorno está relacionado ao medo e a apreensão que certos indivíduos sentem em relação a possíveis danos, perdas e/ou separação de pessoas muito próximas, como mãe, pai, cônjuge e filho. Esse apego extremo acaba desencadeando pesadelos, sintomas físicos de sofrimento, além de relutância em relação ao afastamento. De acordo com a Associação Americana de Psiquiatria, o Transtorno de Ansiedade de Separação acaba limitando o convívio social e gerando prejuízos para o desenvolvimento, pois, em muitos casos, ele se desenvolve com frequência na infância.
Prevalência: O Transtorno de Ansiedade de Separação é mais comum em crianças e pode ocorrer em torno de 4% a 5% das crianças e adolescentes em algum momento de suas vidas. Ele geralmente começa na infância e pode persistir até a adolescência ou mesmo na idade adulta.
Sintomas: Os sintomas incluem ansiedade excessiva ao se separar de entes queridos ou do ambiente familiar, medo de eventos negativos acontecendo durante a separação, relutância em ir para a escola ou para outros lugares sem a presença de pessoas familiares, pesadelos sobre separação, queixas físicas como dores de cabeça ou estômago quando a separação é iminente, e necessidade constante de estar perto de pessoas de confiança.
Mutismo Seletivo:
Sabe aquele medo de falar em público? Pois bem. Estamos diante dele. Claro que em um grau que fica impossível proferir qualquer sílaba, quanto mais uma palavra inteira. Quem sofre com mutismo seletivo fracassa totalmente nas situações sociais as quais se exige um pronunciamento, um discurso, uma fala, como quando vamos apresentar trabalho escolar diante da turma, em situações acadêmicas e/ou profissionais. Interfere profundamente na comunicação social.
Prevalência: O Mutismo Seletivo é um transtorno raro e estima-se que afete cerca de 0,5% a 1% das crianças em idade escolar. É mais comum em meninas do que em meninos. Geralmente começa na infância, antes dos 5 anos de idade.
Sintomas: A característica essencial do Mutismo Seletivo é a persistente falta de fala em determinadas situações, apesar de ser capaz de falar fluentemente em outros contextos. A criança pode falar em casa ou com pessoas de confiança, mas evita falar na escola, em festas ou em situações públicas. Isso pode resultar em problemas sociais, acadêmicos e emocionais.
E dentro desses quadros, onde entra a depressão?
Para muitas pessoas ansiedade e depressão são sinônimos. Apesar de terem sintomas semelhantes, essas duas comorbidades mentais possuem as suas próprias características e definições.
Enquanto na ansiedade há a predominância do medo e da angústia constante, na depressão há um quadro instalado de profunda tristeza e ausência de motivação ou interesse por qualquer atividade ou tarefa rotineira.
Mas é aquele tal negócio – uma coisa leva à outra. A depressão é fator de risco para a ansiedade, assim como a ansiedade para a depressão. Isso porque os sintomas de um transtorno podem girar uma chavezinha mental que desperta outros transtornos. É, praticamente, uma bola de neve.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), alguns estudos científicos demonstram que os transtornos de ansiedade e suas variantes descritas acima são fatores potencialmente explosivos para o desenvolvimento da depressão e abuso de substâncias.
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